sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Sentido da Vida - Arnaldo Jabour

As notícias, aqui e no mundo, estão repugnantes: mulheres apedrejadas, atiradas aos cães, a lama habitual da política...
Daí,  pensei  em me jogar num buraco negro – sem duplo sentido, por favor –  e sumir entre as galáxias.  Sou um idiota em cosmologia mas, li um artigo do Marcelo Gleiser no qual citava que a matéria escura  compõe cerca de 23% da densidade de energia do universo. O restante seria constituído de energia escura, 73% e da matéria bariônica (a que nós vemos normalmente no céu e na Terra), 4%. Essas forças escuras seriam formadas pelos neutrinos estáveis e as WIMPs – partículas massivas.
Então, deprimido com a realidade, resolvi filosofar... Repito coisas que disse num artigo 10 anos atrás, refletindo sobre a repercussão dessas forças ocultas em nossa vida aqui em baixo. 
Diz o Gleiser: “o vácuo não é vazio...(...) “o nada determina talvez o comportamento do universo”...
E foi aí que tive a iluminação! Se existe a matéria/energia escura com massa, os tijolos que preenchem o universo, desfaz-se a antiquíssima noção de “sim” e de “não”. Melhor dizendo, se o invisível tem massa, se os espaços siderais estão ocupados, é sinal que não há o “nada”.  Nada não há.
A ideia de “nada” e de “tudo” seria uma ideia de viventes. Como você vai morrer, o seu cérebro se programa para imaginar que “há” uma coisa e “não há” outra. De que há o “cheio” e o “vazio”, de que há o vivo e o morto. Ideia de viventes. Muito bem, se a “matéria/energia escura” está em “tudo”, há um espantoso  “continuum” que nos liga a todos, os seres “em si” e os seres “para si” – coisas e homens.  
O leitor dirá: como este leigo ousa filosofar?  Respondo, com o lábio trêmulo de ousadia: ‘se o PT e o PMDB se uniram para fundar a república “corrupto-sindicalista”,  por que não posso ser um cientista amador e metafísico?”
Os neutrinos, os  WIMPs o provam: tudo está preenchido. Assim sendo, o universo não está se expandindo na direção de um outro lugar, pois não há “outro lugar”. O universo está se expandindo em relação a si mesmo, para um dia chegar a si mesmo, se bem que não ao ponto de partida, pois não houve partida.  O tal Big Bang faria parte do Big Crunch, o colapso do universo sobre si mesmo, recomeçando eternamente. O universo seria aquilo que existe entre o Big Bang e o Big Crunch.
Mas, continuando este brilhante raciocínio, vemos que a ciência já deve estar desistindo de  chegar a um fim, a uma espécie de “revelação”, como se,  seguindo a “estrada de tijolo amarelo” , chegássemos a Deus, ou, pelo menos, ao Mágico de Oz.
E não só não encontraremos ninguém, nem nada, porque o “nada” não há, nem “ninguém” não há, como também nada se definirá, nem energia nem matéria, pois ambas são parte da mesma “substância”.
Se não vamos chegar a nada, podemos descansar, pois nosso labor diminui; não temos de descobrir resposta para nada, não porque Deus não exista,  porque obviamente, Deus existe sim; ou melhor, Deus existe não como coisa a ser “atingida”. Deus é a Substância e nós, humanos, somos atributos dela. Substância é aquilo que eterna e imutavelmente é. Logo, Deus (substância) é a única coisa que existe. Necessariamente, as outras coisas só existem em Deus mesmo, como parte d'Ele e, nele existimos, se é que essa palavra se aplica a algo, como descobriu para sempre o Einstein da filosofia que foi Baruch Spinoza...
Nada “ex-iste”, no sentido de estar ‘fora’ de algo: “ex-sistere” (estar em pé, do lado de fora) - fora de quê, saiu “de dentro” de onde?).
Por isso, em verdade, em verdade, vos digo, oh, irmãos, que Deus existe, mas não é pai. É tão órfão quanto nós, um Deus-matéria, órfão  de si mesmo. A única coisa que nos resta não é o desespero, esta carência de viventes em crise; o que nos resta é a paz da ausência de esperança. A razão humana devia se redesenhar, não em um Big Bang indo em direção a um futuro. A razão tinha de ser um Big Crunch, mordendo o próprio rabo, voltada para dentro, para nós, os homens, para nosso prazer e saúde. A ciência como arte. Este é o sentido da vida, não há mais desculpa. Somos todos iguais; sejamos felizes!
Big Crunch não é nome de um sanduíche do McDonald’s – é o destino do universo.

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