É chegar ao nada que
bem la dentro de ti existe
é fazer parar a parte interna
que inutilmente ainda resiste.
É dar vazão à outra porção
que teimosamente ainda insiste . . .
É deixar de lutar
com o que não está presente
é aceitar tudo aquilo,
que intuitivamente pressentes
é desviar-se ficando de lado
do que ainda, erroneamente, te ressentes.
É suportar e compreender
a inevitável entrega,
à força invisível
que dentro de ti sutilmente carregas . . .
É perceber a onisciência
em que inadvertidamente navegas.
É sentir e assumir sem surpresa
a energia que há na sua própria natureza
que da vida transborda
para poder seguir em frente
sem esticar demais a ordinária corda.
A mesma que arrebenta
sempre do lado mais fraco
que é sempre o mesmo
que te leva de volta ao velho buraco
revelando sempre, o quanto precisas crescer,
para deixar de ser bruaco . . .
É perder o infantil receio
de saltar o necessário vão,
aquele que em geral,
está sempre na contramão
abandonando de fato a manada
na divergente direção.
É exercitar de verdade a ínfima fé
que à alma calibra
e que controla a maré,
não mais permitindo à vida
perder a excelsa calma
e andar mais uma vez de ré.
É sentir a força existente na aparente fraqueza
é não mais iludir-se, em fazer parte da reles nobreza.
é limpar-se finalmente da contaminante torpeza
de acahar-se estar acima da própria e divina natureza
que a todos nivela, sem a inútil distinção
de se achares melhor que o seu irmão.
Segue então em frente
na derradeira entrega,
da qual não há fuga possível,
assumindo de vez teu lado invisível
e revela de uma vez,
o que o céu a ti refrega.
Aceito o teu inexorável destino
abandonando de vez
o insensato desatino . . .
usando a luz que do Alto surge
não mais se importando com o inimigo
que a teu lado ilusoriamente ruge.
Ri então da própria desgraça
enquanto a vida de verdade
por ti mais uma vez perpassa
e vai com ela cumprindo a missão,
deixando de lado a submissa omissão.
Essa, enfim, é a entrega
daquele que a si, dentro de si, percebe
o infinito que a vida insistentemente persegue
para levar-te finalmente ao encontro de ti mesmo . . .
SRB - 29/03/ 2016